Um dos locais mais respeitosos que conheço é o tatame. Engana-se quem imagina que o tatame é um espaço onde as relações são decaídas. Muito pelo contrário, no tatame, há respeito, marcialidade, amizade e disciplina. Claro que sempre alguém destoante pode pisar no tatame, porém, lá, ele, como se diz no coloquial, “não se cria”. Lá, ele ou entra no eixo ou não conseguirá continuar, pois aquele chão (o tatame) não permite desvios nesse padrão de comportamento. Para continuar pisando no tatame, necessariamente, o praticante de uma arte marcial aprenderá que ninguém “ganha” do seu companheiro de treino. Não há ganhadores nem perdedores. Nós aprendemos continuamente e mutuamente. Se eu submeter alguém, durante o treino, eu aprendi e quem foi submetido também aprendeu. A premissa também é verdadeira, caso eu seja submetido. Logo, durante um treino, há um aprendizado constante e progressivo. Há sempre um desejo de treinar duro e, ao mesmo tempo, de proteger seu companheiro de treino. Crescemos juntos, sempre! Respeito ao colega de treino, ao mestre e ao tatame é uma condição a priori. Nesse mundo “cão”, em que as pessoas não respeitam as outras e onde há vários covardes e hipócritas, ter um local para pisar e viver, em que tais peculiaridades são rechaçadas, é uma dádiva. O tatame é, portanto, uma dádiva e uma arte marcial é a essência para essa condição.
Régis Barros